quinta-feira, 3 de maio de 2012

ENTREVISTA COM O GUITARRISTA MICHEL LEME




Entrevista com Michel Leme



1 - Ao assistir o DVD “Na Montanha”, percebi que foi filmado em dois ambientes, que tinha um clima inspirador e que se respirava arte com pinturas, o ar da montanha e muita musicalidade. Esse clima ajudou na hora de realizar o novo trabalho? O que há de diferente e interessante em tocar em cima da Montanha? Fale um pouco sobre o clima que havia atrás das câmeras.

Michel Leme - Em primeiro lugar, muito obrigado pela oportunidade e meus parabéns por este trabalho, Jota. Espaços como o Mestre da Guitarra são muito importantes pra quem curte música. Respondendo: eu faço parte da Associação Jatobá, que tem por princípio realizar atividades artísticas fora dos ditames mercadológicos. O núcleo onde atuo na associação é o Espaço Cultural Ventos Uivantes, em São Francisco Xavier,
subdistrito de São José dos Campos (SP). Quando eu tive a idéia de registrar um novo trabalho, fiz questão de que fosse da maneira que aconteceu, ou seja, arte coletiva com música, foto, pintura e vídeo rolando na montanha. A primeira experiência de tocar ao ar livre no ECVU foi em 2008, quando gravamos um som com o Waguinho Vasconcelos (bateria) e o Robson Passos (baixo), com a pintura de um grande painel acontecendo simultaneamente - em breve postaremos vídeos desta atividade. Foi chocante tocar em meio à natureza, algo arrebatador mesmo. Quatro anos depois, senti uma emoção não menos intensa na parte ao ar livre do DVD. “Na Montanha” é mais um capítulo da grande continuidade, do grande processo que é tocar tentando submeter-se ao máximo apenas à música, e nesse caso com o diferencial fantástico de tocar onde tocamos. O clima
atrás das câmeras foi o mesmo de quando nos encontramos para passar feriados juntos, ou seja, relaxadíssimo e entre amigos que amam fazer o que fazem.

2 – Quando conheci o som do Jimi Hendrix, não entendi a complexidade e genialidade no som dele, pois eu era muito novo. Porém, hoje Hendrix é referência para mim, pois consegui entender musicalmente quase tudo que ele fazia na guitarra. Quando conheci o Jazz, não consegui gostar de cara, pois não entendia a linguagem e achava difícil de tocar. Você acha que para assimilar melhor algum estilo o músico deve educar o ouvido e conhecer a linguagem musical do estilo?

Michel Leme - Sem dúvida. Quando eu ouvi Barney Kessel na TV eu não entendi nada. Eu tinha 14 anos, aproximadamente, e estava habituado com outro universo musical. Mesmo assim, eu me lembro claramente de que pensei “um dia eu vou tocar esse som”, porque algo me atraiu muito naquilo. E aí você vai conhecendo a linguagem, os temas, as formas, as “gírias”, os estilos de cada improvisador, vai assistindo os caras ao vivo e, enfim, vai sacando o que acontece, o que deixa tudo ainda mais prazeroso e mágico. E, se me permite, vale comentar sobre a questão “jazz” ou “não-jazz”: esta música que tocamos apropria-se da liberdade de improvisar sobre um tema e isso vem de tradições musicais muito anteriores ao surgimento do jazz. Para nós essa tradição da improvisação vem do jazz, que faz parte da formação de cada músico deste trio, mas junto com várias outras linguagens musicais a que fomos expostos. Então, o que tocamos não é propriamente jazz, e tampouco uma tentativa de ser jazz; tocamos algo que é fruto da visão que temos a respeito do ato de tocar juntos sobre um tema com uma melodia forte e com uma forma interessante para improvisar sobre. Eu chamo esse som apenas de música. E para quem quiser se aprofundar um pouco mais, seja tocando ou mesmo acompanhando o que acontece em termos de estruturas nas composições, nós disponibilizamos as partituras dos temas em PDF numa pasta do DVD.


3 - Jazz e Bossa Nova, são estilos interessantes que tem diferenças e características que definem cada um. Sabendo que você é um Jazzista nato, que gosta de belas harmonias e melodias, gostaria de saber que influências você tem na música brasileira e fale sobre alguma influência do Jazz importante para a sua formação?

Michel Leme - De fato, não sou “jazzista nato”, Jota. Sempre gostei de improvisar, isso é fato, mas não começou com a linguagem do jazz. Eu nasci numa família que ama música: meu avô paterno tocava muito bem violão, meu pai estudou violino formalmente, minha mãe estudou piano e acordeon e meu irmão toca guitarra. Aos sete anos eu tocava baixo em alguns ensaios e até apresentações do meu irmão, que me apresentou a sons como Jimi Hendrix, Black Sabbath, Led Zeppelin, Beatles, John McLaughlin, George Benson etc.; aos oito comecei ao violão, tocando música brasileira com meu avô - eu o acompanhava em choros, valsas, catiras, enfim, vários ritmos que fizeram parte da vida dele no começo do século XX em Espírito Santo do Pinhal, interior de SP. Junto com isso, meu pai ouvia Mozart, Bach, Paganini e árias de óperas em casa. O interesse pelo jazz veio forte aos 18 anos: meus amigos Pierre, Tuta Bastos (In Memorian) e Antonio Carlos me chamavam pra tocar temas brasileiros com harmonias que eu desconhecia e diziam “sola aí!”, e eu, mesmo sem saber nada do que estava fazendo em termos teóricos, tentava algo musical sobre o que estava rolando. Como eles gostavam, eu continuava sendo chamado pros sons, o que era e continua sendo ótimo, porque é sempre um grande prazer e um grande aprendizado tocar. Só que chegou uma hora na qual eu me conscientizei de que era indispensável estudar os acordes mais o que era possível tocar sobre eles pra começar como eu acredito que se deva começar: tocando o que soa bonito sobre as seqüências de acordes. A partir daí, eu comecei a mergulhar na música de Miles Davis, Thelonious Monk, Ahmad Jamal, John Coltrane, Wayne Shorter etc. Outra coisa que ajudou desde o começo foi não “colar” muito em guitarristas – o que ocasiona o muitíssimo comum aparecimento de meros “covers” por aí. Eu ouvi e conheço o som de vários guitarristas, mas preferi descobrir coisas novas no meu instrumento ao, além de tentar tocar o que eu imagino, tentar reproduzir o que fazem os saxofonistas, trompetistas, pianistas etc. O que não é nada novo, mas que realmente ajuda a abrir a mente e a enxergar coisas que eu jamais tinha sonhado enxergar no instrumento.


4 - Como surgiu a idéia de gravar em cima da Montanha? E fale um pouco sobre algumas composições do novo DVD.

Michel Leme - Foi preparada uma sala para gravar, que é o cenário da primeira parte do DVD, mas, desde que acordamos com um belo dia, já cogitamos gravar ao ar livre. Como o tempo continuou firme no decorrer, foi o que aconteceu. As composições são de épocas variadas, vão de 2003 até poucos meses antes da gravação. O DVD começa com o baião “Diz Aí” – o único take 2 do DVD, o restante é take 1 - que gravei num disco não-lançado de 2003 do grupo Motaba; o segundo tema é uma modesta homenagem ao maravilhoso músico/pianista McCoy Tyner, chamado “El Tyner”; a terceira faixa e última da parte “Dentro” é “Indo a Santos”, um samba rápido com três partes. Em seguida, vem a parte “Fora”, ao ar livre, onde tocamos quatro temas em seguida: “Entrelinhas”, um cha-cha mais introspectivo que compus ao vivo, tocando num boteco com o Bruno Migotto e o Jônatas Sansão; “Dominación” que surgiu numa passagem de som de uma apresentação do disco passado, o “5º”, e que encaixei na forma do “rhythm-changes”, seqüência de acordes da composição “I got rhythm” de Gershwin, que teve inúmeros temas compostos sobre; o samba “Dito e Feito”, que foi gravada no primeiro disco do Edu Letti e que neste DVD tem uma versão um pouco mais lenta; e, fechando o DVD, tem o “Celso Childs’ Blues”, que não tem a forma clássica do blues de 12 compassos, mas tem a ver com o espírito da coisa, e é outro tema que compus na hora tocando em algum lugar. Tenho ouvido coisas ótimas de quem assiste ao DVD, o que é um bônus, porque todo o processo de produção do DVD foi extremamente prazeroso, um verdadeiro prêmio.


5 - Quem vê o “Michel Leme Trio” tocando observa que vocês são um time de grande qualidade para a música, o entrosamento do Trio também é algo a se elogiar. Sei por experiência própria que tocar com músicos de confiança é muito importante, pois além da música, também tem que rolar uma lealdade e profissionalismo. Qual a importância dos músicos “Bruno Tessele” e “Bruno Migotto” na concepção do novo trabalho? Fale um pouco sobre o que esses dois excelentes músicos representam para você.

Michel Leme - Eu toco com o Bruno Tessele desde 2004 e com o Bruno Migotto desde 2008, que foi o ano no qual esse trio começou a tocar junto. O que acontece com estes caras e alguns outros músicos aqui de SP e ABC é que eles entenderam que o músico deve submeter-se à música, ou seja, entenderam que o músico deve ouvir o que está acontecendo na hora e, ao invés de trazer suas concepções fechadas de casa e aplicar/repetir coisas mortas sobre algo que poderia ser vivo, eles escolhem reagir ao momento, levando em conta a real vontade de ouvir o que o outro tem a dizer e a grande realização pessoal que é ser parte de um todo, de um grupo que pode gerar sons poderosos e situações indescritíveis daquelas que ficam impressas na mente. Enfim, eles escolheram servir a algo muitíssimo maior do que qualquer ambição individual estúpida que, de fato, anula qualquer possibilidade da música acontecer. Os Brunos e alguns outros músicos mais jovens com os quais eu tenho a sorte de tocar representam a esperança de que a integridade e honestidade musical ainda são possíveis.


6 - Geralmente, guitarristas mais novos que estão construindo uma carreira têm uma preocupação com parte técnica e com velocidade somente. Não se preocupam como fato de simplesmente tocar e sentir a música, improvisar. Querem sempre mostrar virtuosidade e agilidade, esquecendo que um simples tema ou improviso com feeling pode encantar e conquistar um coração e ouvido de quem está assistindo ou ouvindo. Já guitarristas mais maduros sabem os caminhos, não precisam provar nada a ninguém e se preocupam mais com o grupo ou trio do que com a performance pessoal . Você acha que é preciso ter uma dosagem certa para isso, será melhor uma performance pessoal do que uma performance coletiva?

Michel Leme - Sem dúvida, o que acontece coletivamente é muito mais poderoso, transformador. E é por isso que as manifestações artísticas que têm a ação coletiva como principal característica estão banidas da sociedade, um exemplo óbvio disso é a própria música instrumental que, com exceção da que é feita sob adequações, está totalmente no gueto. Como a orientação da ideologia dominante que está na mídia, nos filmes, novelas etc. leva o cidadão a ser um individualista em qualquer instância, o que neutraliza qualquer possibilidade da massa se reunir e se organizar para reagir à tirania das oligarquias que mandam no planeta, é óbvio que na música o “herói”, aquele que resolve tudo sozinho, será festejado. A síndrome do egoísta que quer que a música o sirva (e não o contrário) é apenas um reflexo do senso comum, o que é nefasto justamente por trazer a competição para a arte. E essa competição é tida como normal e certa, basta ter o desprazer de ler alguns fóruns na rede ou comentários lamentáveis no youtube, por exemplo. E, curiosamente, quando você tromba com os caras que tocam competindo e você dá pra eles o mesmo remédio (ou veneno), eles ficam bem bravos! É curiosíssimo, a reação é ódio puro. Mas agradeço muitíssimo por estas oportunidades terem sido exceções raríssimas. Felizmente, venho tocando apenas com caras que tocam para o som. É uma questão de escolha: alguns se concentram na música; outros, em ser empreendedores.


7 - O Fato de não gravar em um estúdio caro, Sem caras famosos, sem pessoas que faz a arte da capa para todo mundo e sem alguém que faz masterização para todo mundo, deu mais liberdade a produção e realização do novo DVD?

Michel Leme - Sim. E, além de ter mais liberdade, pudemos deixar de gastar quantias que não condizem com a nossa realidade e muito menos com a nossa necessidade. E eu pude trabalhar com pessoas que amam o que fazem, e sem a menor afetação. Eu não troco isso por entrar na fila da “boiada”; não troco tentar algo que seja arriscado por simplesmente seguir a tendência dominante. Tem gente que se contenta em estar na média; minha autocrítica e o valor das pessoas que me cercam me fazem procurar por caminhos que proporcionem cada vez mais vida ao que amo fazer. E estes caminhos fazem parte de uma continuidade, de um acúmulo de experiências e de um conjunto de princípios que fazem tudo acontecer de uma forma mais humana, que não é assepticamente perfeita, mas que é incomparavelmente mais prazeroza. Então, enquanto, por exemplo, uns levantam um trabalho com um time que está no mesmo nível e na hora de gravar chamam os “medalhões”, dispensando os que chamavam “brothers” na hora H, eu sempre preferi ter um time e ser fiel a ele, e não porque sou “um cara legal”, mas porque a música soa mais viva desta maneira. O mesmo se aplica a escolher o risco de se agendar uma data para gravar ao ar livre ao invés de escolher gravar algo com as paredes de um estúdio como cenário. O foco é a música sempre, mas já que foi decidido fazer um DVD, porque não escolher um cenário como o que foi escolhido? Se a música acontece de uma forma natural, porque não ter a própria natureza como parte disso? Enfim, correr riscos e pensar em alternativas são coisas que me atraem muito mais.


8 - Você tem tocado bastante com esse novo Trio, apesar do Jazz não ser um estilo comercial aqui no Brasil, ter um público específico e seleto. As pessoas que não abrem espaço para o estilo estão cometendo um erro ou estão pensando apenas no dinheiro? Na sua visão o que poderia ser feito para melhorar?

Michel Leme - Quem não está pensando apenas no dinheiro hoje? Tem vários “artistas” que conseguem projeção porque estão de acordo com o fascismo do momento atual, em qualquer que seja o gênero. Se você faz o que o sistema precisa é óbvio que vai ter destaque nele de alguma maneira, é um encontro de interesses. E não estou nem citando a escrotidão milionária do mainstream; a própria música instrumental – onde gira menos grana, mas gira - é mais um campo pra isso: os vendidos (explorados que querem ser exploradores e que abandonam o sonho inicial adequando-se à tendência dominante), os individualistas (competidores, heróicos, truculentos, cheios de “atitude”), os burgueses (que fazem o som “leve”, “alto astral”, que passa a mensagem pacificadora “está tudo bem”) ou mesmo os incapazes bem relacionados só mudam de nome e têm as primeiras senhas no sistema. Os projetos com grana têm estes caras como queridinhos, por uma questão de sintonia mesmo: o sistema quer manter a massa apática e estúpida, e esses personagens são perfeitos pra isso. Já quem está fora dessa sintonia, por talvez não ter estômago para desempenhar estes papéis, está excluído. Você me pergunta o que pode ser feito pra melhorar; honestamente, não sei. Talvez, em primeiro lugar, pra começar a faxina, seria legal abolir os rótulos. Nós tocamos música. Ponto. A partir daí, que cada um vá assistir ao vivo pra chegar às suas próprias conclusões - e qualquer conclusão que chegar num mero rótulo significa apenas mais um atestado de estupidez. Quanto ao cenário atual, não é dos mais favoráveis: as leis (Psiu, impostos para quem quer abrir uma escola, bar etc.) e a ideologia dominante – e em conseqüência, o próprio público, que é a grande marionete desta - dificultam para que exista música ao vivo tocada sem adequações à lógica da mercadoria. Não é novidade alguma e é fácil constatar que, para a sociedade de hoje, o músico deve apenas fazer fundo musical e/ou ser um “cover” de algum gringo milionário. Então, todos estabelecimentos que oferecem música ao vivo vão se tornando iguais, é proibido tocar livremente neles. Assim como o próprio público vai se tornando cada vez mais igual, uniformizado, querendo ouvir apenas mais do mesmo – e bem baixinho, pra não atrapalhar suas conversas... Enquanto isso, o músico tem que ouvir “abaixe o volume”, “pô, foi legal mas você não tocou a música ‘x’” e outras imbecilidades que todos já aceitam como normal. Resta apenas o gueto pra tocar à vontade. Então, como diz um amigo, vamos organizar esse gueto! Vamos pensar juntos em novas alternativas para continuar tocando, exercendo a arte que amamos fazer e mantendo nossa sanidade mental. Idéias?


9 – A música hoje não tem fronteiras, sabemos de onde vem os estilos , suas raízes e características. Hoje em dia todo mundo quer ouvir blues e jazz, os novos guitarristas que não tem muita estrada e conhecimento já dizem “sou jazzista ou blueseiro”. Há um certo modismo. Na sua Experiência, não é perigoso um músico dizer que é de um estilo especifico, apenas por causa da moda? Não seria preciso conhecer ou gostar suficientemente do estilo para definir-se jazzista ou blueseiro?

Michel Leme - Rótulos são parte essencial para que se venda um produto. Quem se auto-rotula está claramente colocando-se numa prateleira. Não é óbvio? Só que arte e capital andam em vias distintas. Quem quer fazer arte e, ao mesmo tempo, atingir a massa ou visar o lucro deveria informar-se pra ver que não dá pra ser íntegro artisticamente com estes objetivos. Quanto aos estilos que você cita e a questão dos modismos: a cada vez a mídia promove um ou outro estilo, dependendo do que precisa ser vendido. Basta pesquisar sobre “Indústria Cultural” pra entender isso com clareza. Enquanto isso, os verdadeiros artesãos da música seguem suas trajetórias fazendo o que amam fazer. Perde quem não busca presenciar isso.


10 – Quais são seus patrocínios e marcas que lhe apoiam atualmente?

Michel Leme - As marcas que me apóiam com produtos de qualidade para que eu possa tocar dignamente e que acreditam em projetos como este DVD são: Cassias, D’Addario, Fire Custom, Rotstage, Tecniforte. As empresas parceiras que apoiaram este trabalho: EM&T, MF Produções e Espaço Sagrada Beleza. Também contamos com o apoio logístico e trabalho dos parceiros do Espaço Cultural Ventos Uivantes.


11 - Que instrumentos e pedais você usou , no processo de gravação do DVD “Na Montanha”?

Michel Leme - Usei a guitarra acústica Cassias, que adquiri do luthier João Cassias e estou usando desde setembro de 2010. É um instrumento fantástico. Nela eu usei cordas D’Addario Chromes .012 (com a primeira E na medida .013 e a G desencapada .022). O amplificador é o mesmo Rotstage modelo Libra 100 que uso desde 2007, totalmente valvulado, meu modelo-assinatura. Efeitos: usei um Flanger resto de contratos passados, um wha-wha automático (ou “envelope”) da Guyatone e um Booster da Fire Custom. A fonte e o pedalboard também são da Fire Custom e os cabos são Tecniforte.


12 – Na internet, as mídias alternativas tem sido as principais formas de divulgação para trabalhos independentes ou fora dos padrões comerciais. Seu trabalho já chamou atenção de programas como o do Jô Soares que você participou e outros programas. Mesmo assim você participa e valoriza programas de internet mais simples e participa de sites e blogs de audiência menor e mais especifica. Qual a importância desses sites, blogs, programas de TV pela internet e redes sociais para a divulgação de seu trabalho?

Michel Leme - As novas mídias são importantíssimas para trabalhos independentes, porque ainda não foram maculadas (em sua maioria) com os vícios das mídias tradicionais totalmente vendidas, escravas do capital. Desta forma, existe democracia nesse nicho: os artistas independentes têm o mesmo espaço que os bancados por multinacionais bilionárias, por exemplo – o que é improvável nas mídias tradicionai$. Por esta razão, estes veículos são a via principal de divulgação para trabalhos como o meu e o de colegas que atuam de maneira similar. E os responsáveis por estes veículos realmente ouvem e curtem o som, são apreciadores de música que ajudam na difusão destes trabalhos. Eu dou total valor a isso, por isso ajo como parceiro destes veículos, prontamente. Quanto à “grande mídia”, só um exemplo: tocamos no Jô Soares com o Umdoistrio em 2003 e, depois disso, mesmo enviando os discos a cada lançamento, nada! A mídia tradicional não justifica o trabalho do artista como a maioria das pessoas acredita e apóia estupidamente; o que justifica o trabalho de um artista é a continuidade, a integridade, a qualidade. Só que pra atestar isso é preciso sair da zona de conforto.


13 – Na visão de um músico e critico musical que acompanha seu trabalho, seus CDs e DVD, esse foi o trabalho mais livre de formatos e padrões comerciais. Para quem ouve é algo inovador e libertador, pois é uma nova formula que está dando certo. E a mensagem está sendo passada de tocar o que gosta e não o que os outros querem ouvir. Às vezes parece estar remando contra a Maré, mas nos Rumos que a música comercial está no Brasil hoje, a maré não está na direção errada?

Michel Leme - Eu jamais visei o comércio nos meus discos. O que acontece é que você vai trilhando uma jornada de autoconhecimento, vai acumulando experiências na vida e isso, claro, vai aparecendo no som e deixando a sua mensagem mais clara. Eu também não diria que encontrei uma “fórmula”, de fato eu nem quero isso; eu simplesmente quero tocar o que me dá prazer. Quanto à questão da “maré”: a “boiada” está consumindo o que o sistema quer que ela consuma, e para mim esta boiada está se dirigindo para o abatedouro e levando junto com ela o nosso planeta. Se algo não mudar, infelizmente o crescimento perpétuo do capitalismo continuará acabando com qualquer possibilidade de sustentabilidade – assim como inverteu e subverteu os valores da sociedade. É tudo uma questão de vender o que é preciso vender; o Capital é maior do que o próprio Homem. Então, em relação à arte, a Indústria Cultural dominou a cena e o lixo é premiado com ouro e vice-versa. Realmente eles conseguiram. É o caos, e é um absurdo que já foi absorvido pelas pessoas como “normal”, assim como a violência, o jabá, os programas dominicais, os BBBs, a opressão econômica etc. Estão todos anestesiados. Se não estamos vivendo o “Admirável Mundo Novo” de Huxley, estamos totalmente encaminhados pra isso.


14 – Michel desde já agradeço a oportunidade de mais uma entrevista, será sempre um prazer. Para finalizar que mensagem você deixa para quem está iniciando uma carreira na música?

Michel Leme - Eu é que agradeço, Jota! E vida longa para o “Mestre da Guitarra”!!! Minha mensagem aos que estão iniciando na música: se vocês forem realmente honestos ao lidar com esta arte, sempre estarão com a sensação de estar iniciando nela. O papo todo sobre “carreira” nunca me atraiu; a música, a divina, esta sim, nunca deixa de me seduzir. Abraços!

Michel Leme

www.michelleme.com



2 comentários:

  1. Otima entrevista.
    Michel coberto de razão e trazendo à luz uma ótima discussão!!!

    ResponderExcluir
  2. Com certeza Danyel e obrigado por comentar no blog. Cada dia aprendo mais e mais com este Grande guitarrista e professor que é o Michel Leme

    ResponderExcluir